quarta-feira, 9 de março de 2016

Patrimônio Histórico: por mais questionamentos

            Na rápida e breve leitura introdutória de Françoise Choay, a Alegoria do Patrimônio, é levantada uma questão que ultrapassa a pagina do texto até alcançar nosso entendimento de patrimônio histórico, que remexe nossa própria existência no que diz respeito ao que entendemos e ao que classificamos como tal e, além disso, como o patrimônio histórico passa a ser entendido como patrimônio histórico.  
                 Em uma sociedade extremamente móvel, disseminada pelas informações das mais diversas mídias, determinados conceitos nos parecem óbvios, não precisam de muitas perguntas para respondê-lo ou mais ainda, saber de onde veio ou como surgiu. É a sociedade das “coisas prontas”, tudo é da forma que é e tudo nos parece muito simples e dispensa interrogações.  
               É exatamente para essa sociedade das “coisas prontas” que Françoise Choay quer nos alertar a questionar e perguntar sobre o que nos parece pronto, divulgado pela mídia como algo que já existe por si só. Choay quer nos atentar para as construções que nos parecem obvias, entretanto, toda construção, como a própria palavra sugere, um dia não foi logica para a sociedade, foi necessário cria-la.
            A palavra patrimônio se remete a algo que é transmitido, como uma herança de pais para filhos. A preservação, a busca pela resguarda pelo patrimônio se inicia com a Revolução Francesa, momento em que o termo passa a ser citado. Em 1837, é criada a primeira Comissão dos Monumentos Históricos, que passou a escolher os grandes prédios e castelos históricos que lembravam a Idade Média.
            Percebemos então que, a palavra patrimônio não surgiu de uma hora para outra, foi preciso um contexto, uma demanda para que ganhasse significado e fizesse sentido em meio à sociedade. Nesse sentido, somos remetidos ao monumento histórico. O que é um monumento histórico? Qual a sua função na sociedade? Restringe-se somente a ideia de um grande prédio antigo que relembra o passado?
           Certamente, não. O monumento possui a função de relembrar como o nome sugere. Derivado do latim monumentum, vindo de monere, significa lembrar, advertir, de trazer algo a nossa lembrança e nos alertar que precisamos lembrar-nos de algo, lembrar para que não se esqueça. Se o monumento é responsável pelo ato de nos fazer lembrar, como a lembrança é selecionada? Como nos lembramos de determinadas coisas e outras não?
          A lembrança é selecionada em meio à imensidão da memória, que é escolhida e recortada para que nos lembremos de algo que está no passado. Podemos citar o exemplo do memorial cela “cinzeiro” que se encontra no São José Liberto, em meio à imensa memória que o espaço possui, foi escolhida a pequena cela para que se lembre do período em que o espaço serviu como cadeia publica e presídio, ou seja, a função da cela é nos lembrar dos tempos de cárcere e de seus ocorridos. Logo, o monumento é facilmente selecionado e recortado de acordo com o que se deseja lembrar.
           A ideia de monumento histórico só passou a integrar os dicionários da França por volta da segunda metade do século XIX, o que prova a sua construção e a demora em que o conceito se torna familiar, se torna obvio. São questionamentos como esses que levam Choay a afirmar que o patrimônio é uma alegoria, ou seja, um conceito diverso e que pode possuir diversos entendimentos ao longo da história.
       Esse é um breve comentário a respeito de patrimônio e monumento histórico, que tal aprofundar a leitura e criar novos debates e ampliar os conhecimentos sobre o assunto? Por mais questionamentos? Fica a dica para a leitura do livro A Alegoria do Patrimônio da autora francesa Françoise Choay.
             
             Até a próxima!


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