Na rápida e breve leitura introdutória
de Françoise Choay, a Alegoria do Patrimônio, é levantada uma questão que
ultrapassa a pagina do texto até alcançar nosso entendimento de patrimônio histórico,
que remexe nossa própria existência no que diz respeito ao que entendemos e ao
que classificamos como tal e, além disso, como o patrimônio histórico passa a
ser entendido como patrimônio histórico.
Em uma sociedade extremamente móvel,
disseminada pelas informações das mais diversas mídias, determinados conceitos
nos parecem óbvios, não precisam de muitas perguntas para respondê-lo ou mais
ainda, saber de onde veio ou como surgiu. É a sociedade das “coisas prontas”,
tudo é da forma que é e tudo nos parece muito simples e dispensa interrogações.
É exatamente para essa sociedade
das “coisas prontas” que Françoise Choay quer nos alertar a questionar e
perguntar sobre o que nos parece pronto, divulgado pela mídia como algo que já
existe por si só. Choay quer nos atentar para as construções que nos parecem
obvias, entretanto, toda construção, como a própria palavra sugere, um dia não
foi logica para a sociedade, foi necessário cria-la.
A palavra patrimônio se remete a
algo que é transmitido, como uma herança de pais para filhos. A preservação, a
busca pela resguarda pelo patrimônio se inicia com a Revolução Francesa,
momento em que o termo passa a ser citado. Em 1837, é criada a primeira
Comissão dos Monumentos Históricos, que passou a escolher os grandes prédios e
castelos históricos que lembravam a Idade Média.
Percebemos então que, a palavra
patrimônio não surgiu de uma hora para outra, foi preciso um contexto, uma
demanda para que ganhasse significado e fizesse sentido em meio à sociedade.
Nesse sentido, somos remetidos ao monumento histórico. O que é um monumento
histórico? Qual a sua função na sociedade? Restringe-se somente a ideia de um
grande prédio antigo que relembra o passado?
Certamente, não. O monumento possui
a função de relembrar como o nome sugere. Derivado do latim monumentum, vindo de monere, significa lembrar, advertir, de
trazer algo a nossa lembrança e nos alertar que precisamos lembrar-nos de algo,
lembrar para que não se esqueça. Se o monumento é responsável pelo ato de nos
fazer lembrar, como a lembrança é selecionada? Como nos lembramos de
determinadas coisas e outras não?
A lembrança é selecionada em meio à
imensidão da memória, que é escolhida e recortada para que nos lembremos de
algo que está no passado. Podemos citar o exemplo do memorial cela “cinzeiro”
que se encontra no São José Liberto, em meio à imensa memória que o espaço
possui, foi escolhida a pequena cela para que se lembre do período em que o
espaço serviu como cadeia publica e presídio, ou seja, a função da cela é nos
lembrar dos tempos de cárcere e de seus ocorridos. Logo, o monumento é
facilmente selecionado e recortado de acordo com o que se deseja lembrar.
A ideia de monumento histórico só
passou a integrar os dicionários da França por volta da segunda metade do
século XIX, o que prova a sua construção e a demora em que o conceito se torna
familiar, se torna obvio. São questionamentos como esses que levam Choay a
afirmar que o patrimônio é uma alegoria, ou seja, um conceito diverso e que pode
possuir diversos entendimentos ao longo da história.
Esse é um breve comentário a
respeito de patrimônio e monumento histórico, que tal aprofundar a leitura e
criar novos debates e ampliar os conhecimentos sobre o assunto? Por mais questionamentos? Fica a dica
para a leitura do livro A Alegoria do Patrimônio da autora francesa Françoise
Choay.
Até a próxima!
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