Certamente, é possível
que o título desse pequeno texto tenha chamado a sua atenção, principalmente,
para duas palavras: patrimônio histórico. Recentemente, comemoramos o nosso
anual 19 de abril em que nos lembramos do índio com poucas roupas, pinturas no
corpo, adereços com penas e o que não pode faltar, o famoso arco e flecha que é
considerado o símbolo indígena.
Em outro momento
conversamos sobre o patrimônio e como bem lembramos, a palavra se refere a uma
herança que nos é deixada e que representa uma grande importância. Mas,
esbarramos em um pequeno problema. Se o patrimônio é uma herança importante,
com grande significado, o que o indígena com arco e flecha representa para a
nossa atual sociedade?
Chegamos ao que você deve ter se perguntado ao
ler o título deste pequeno texto: qual a contribuição do índio para o
patrimônio histórico do Brasil? Não é uma pergunta fácil de ser respondida e
que não é uma discussão que se esgota aqui e esse não é meu objetivo, pelo
contrário, procuro gerar cada vez mais debates sobre a temática indígena e que
possamos dialogar cada vez mais.
Para entender de forma
mais ampla, faremos um pequeno traçado histórico sobre o entendimento do índio
em diferentes contextos da história do Brasil. No final do século XIX e inicio
do século XX, o indígena era visto a partir do olhar europeu, eurocêntrico e
colocando o indígena em condição desfavorável, de inferioridade, submisso e que
não se adequava ao trabalho.
Durante as décadas de
1960 de 1970 buscou-se incorporar os índios a cultura brasileira, porém, é
retratado como vitima do processo de colonização, em que foi submetido a
injustiças sobre a terra e que sua cultura foi modificada radicalmente ou caiu
em um processo de “desaparecimento”, como se as comunidades perdessem sua
cultura e que não poderiam mais recuperar.
Por volta da década de
1980, o índio deixa de ser entendido como vitima e passa a ser compreendido
como o agente do seu processo histórico e de participação na colonização,
exercendo alianças com os colonizadores ou oferecendo resistências das mais diversas
maneiras como guerras ou até mesmo se convertendo ao cristianismo.
Conforme Wania
Alexandrino*, a colonização das terras do Brasil** só foram possíveis devido a
participação indígena, pois os mesmos foram responsáveis em proporcionar o
conhecimento da terra. Com a ajuda dos índios remeiros, que ficaram
encarregados de mobilizar os grupos de colonizadores através dos rios.
Portanto, sem o indígena a colonização enfrentaria maiores obstáculos.
Dessa forma, vemos que
o indígena foi colocado no centro da discussão como um sujeito e não apenas como
vitima do processo colonial, que não exerce reações a sua condição na qual está
inserido, na realidade em que está situado e sem demonstrar ações. Essas
mudanças não apenas ocorreram nas visões históricas, mas também sociais a
partir dos grupos que se veem representados como indígenas e que lutam por
melhorias a cada dia.
Isso significar dizer
que o indígena atual e os vários grupos existentes hoje no Brasil possuem
história, cultura, participa ativamente do processo político e das decisões
importantes. São sujeitos conscientes de sua própria trajetória, essa ideia é importante
para desfazer uma serie de argumentos em que o índio não passa de um individuo
sem roupa, parado no tempo e em florestas.
*Professora na
Universidade da Amazônia (Unama) e doutoranda na Universidade Federal do Pará,
desenvolve pesquisa sobre os índios na Amazônia Colonial.
**Faço essa pequena
nota para justificar o anacronismo para os leitores mais especializados sobre
historiografia. Utilizo a ideia de Brasil por questões didáticas para o leitor não
especializado e para o público mais amplo.
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