terça-feira, 31 de maio de 2016

Cultura Indígena: um patrimônio histórico

Certamente, é possível que o título desse pequeno texto tenha chamado a sua atenção, principalmente, para duas palavras: patrimônio histórico. Recentemente, comemoramos o nosso anual 19 de abril em que nos lembramos do índio com poucas roupas, pinturas no corpo, adereços com penas e o que não pode faltar, o famoso arco e flecha que é considerado o símbolo indígena.

Em outro momento conversamos sobre o patrimônio e como bem lembramos, a palavra se refere a uma herança que nos é deixada e que representa uma grande importância. Mas, esbarramos em um pequeno problema. Se o patrimônio é uma herança importante, com grande significado, o que o indígena com arco e flecha representa para a nossa atual sociedade?

Chegamos ao que você deve ter se perguntado ao ler o título deste pequeno texto: qual a contribuição do índio para o patrimônio histórico do Brasil? Não é uma pergunta fácil de ser respondida e que não é uma discussão que se esgota aqui e esse não é meu objetivo, pelo contrário, procuro gerar cada vez mais debates sobre a temática indígena e que possamos dialogar cada vez mais.

Para entender de forma mais ampla, faremos um pequeno traçado histórico sobre o entendimento do índio em diferentes contextos da história do Brasil. No final do século XIX e inicio do século XX, o indígena era visto a partir do olhar europeu, eurocêntrico e colocando o indígena em condição desfavorável, de inferioridade, submisso e que não se adequava ao trabalho.

Durante as décadas de 1960 de 1970 buscou-se incorporar os índios a cultura brasileira, porém, é retratado como vitima do processo de colonização, em que foi submetido a injustiças sobre a terra e que sua cultura foi modificada radicalmente ou caiu em um processo de “desaparecimento”, como se as comunidades perdessem sua cultura e que não poderiam mais recuperar.

Por volta da década de 1980, o índio deixa de ser entendido como vitima e passa a ser compreendido como o agente do seu processo histórico e de participação na colonização, exercendo alianças com os colonizadores ou oferecendo resistências das mais diversas maneiras como guerras ou até mesmo se convertendo ao cristianismo.

Conforme Wania Alexandrino*, a colonização das terras do Brasil** só foram possíveis devido a participação indígena, pois os mesmos foram responsáveis em proporcionar o conhecimento da terra. Com a ajuda dos índios remeiros, que ficaram encarregados de mobilizar os grupos de colonizadores através dos rios. Portanto, sem o indígena a colonização enfrentaria maiores obstáculos.

Dessa forma, vemos que o indígena foi colocado no centro da discussão como um sujeito e não apenas como vitima do processo colonial, que não exerce reações a sua condição na qual está inserido, na realidade em que está situado e sem demonstrar ações. Essas mudanças não apenas ocorreram nas visões históricas, mas também sociais a partir dos grupos que se veem representados como indígenas e que lutam por melhorias a cada dia.

Isso significar dizer que o indígena atual e os vários grupos existentes hoje no Brasil possuem história, cultura, participa ativamente do processo político e das decisões importantes. São sujeitos conscientes de sua própria trajetória, essa ideia é importante para desfazer uma serie de argumentos em que o índio não passa de um individuo sem roupa, parado no tempo e em florestas.

*Professora na Universidade da Amazônia (Unama) e doutoranda na Universidade Federal do Pará, desenvolve pesquisa sobre os índios na Amazônia Colonial.

**Faço essa pequena nota para justificar o anacronismo para os leitores mais especializados sobre historiografia. Utilizo a ideia de Brasil por questões didáticas para o leitor não especializado e para o público mais amplo. 

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