A arqueologia apresenta um
papel fundamental para conhecermos a história das civilizações passadas por
meio de objetos antigos encontrados em determinados lugares, pinturas nas
paredes e entre outros. Sendo que, os vestígios arqueológicos são encontrados
em vários lugares, no caso, da Amazônia despertam curiosidade tanto dos
profissionais da área como dos leigos. Os materiais encontrados pelos
arqueólogos, no século XIX e início do século XX se destinava a salvaguarda dos
mesmos, no qual eram direcionados para os museus.
Todavia, no final da década de 1980 se inicia um período de
valorização da visita aos sítios arqueológicos. E a mídia e o movimento de
valorização da natureza pela sua estética colaboram para a divulgação do mesmo,
motivando a inserção da atividade de ecoturismo, acompanhando ações
relacionadas à conservação ambiental. Isso permitiu que o público não especializado
– no qual se inclui também o infantil, conheça como trabalha o arqueólogo e
tenha acesso às novas informações sobre a pré-história do país.
Contudo, o turismo é uma atividade econômica, que possui
vários seguimentos com potencial também provindas da natureza e da cultura, dando
a elas a possibilidade de serem oferecidas a consumidores que não desejam
comprá-las, mas passar pela experiência de conhecer o outro e o lugar. Sendo
assim, os bens arqueológicos passam ser também uma atração turística, com a
possibilidade de visualização ou manipulação dos objetos, a importância na
história local e nacional, a beleza plástica da arte e dos objetos, além das
construções e monumentos antigos. O turismo, pode vim se tornar um grande
colaborador para conservação do patrimônio arqueológico, se empregado de forma
adequada por uma equipe gestora capacitada para isso, junto também a comunidade
próxima aos sítios arqueológicos gerando benefícios econômicos, a não
depredação e controle de visitantes nos sítios, contribuindo para a consciência
de preservação do patrimônio arqueológico.
Porém, existem
leigos que incrementa o mercado ilícito de compra e venda de peças
arqueológicas. Acrescente-se a isso a divulgação prematura de sítios sem que
tenham sido feitos os estudos necessários ou onde não se tenha incrementado uma
infraestrutura que permita sua visitação pública sem riscos ao sítio e ao
próprio visitante.
A divulgação da existência de sítios arqueológicos na
Amazônia, em particular no Pará, tem sido feita por agências de turismo, mas
também pelo próprio governo do estado que veem o sitio como atrativo, porém
falham em não verificarem se há uma equipe pesquisadora ou gestora contribuindo
para o local se o mesmo é protegido e se está propicio a um número
significativo de visitantes. Há considerações a serem feitas, antes da
divulgação de um sitio arqueológico para posteriores visitas.
No Pará, algumas regiões passaram a ser incluídas em
roteiros turísticos em função principalmente da existência de sítios
arqueológicos. Como o município de Monte Alegre, a Serra das Andorinhas
(localizada no município de São Geraldo do Araguaia) e a Ilha do Marajó – nas
quais os sítios arqueológicos constituem um dos principais atrativos turísticos
divulgados por agências especializadas.
O município de Monte Alegre, localizado no baixo Amazonas,
tem como principal atrativo turístico pinturas rupestres localizadas num
conjunto de três serras situadas a cerca de 40 km a oeste da sede municipal. As
pinturas rupestres dessas serras são conhecidas e visitadas há muito tempo
sendo que alguns dos seus visitantes não hesitaram em deixar registrada na rocha
a sua passagem. A partir de 1999, as empresas de turismo passaram incluir em
seus roteiros os sítios arqueológicos do lugar.
Pois, verifica-se a
princípio a não conscientização com o sitio arqueológico, a falta de guias
capacitados para o acompanhamento de visitantes pelo lugar, como uma tentativa
de evitar danos maiores ao sitio arqueológico. Entretanto, em 2001 foi criado o
Parque Estadual de Monte Alegre e com ele renasceu a esperança de uma real
proteção ao patrimônio arqueológico da região. No entanto, decorridos quatro
anos de sua criação, o Parque ainda não dispõe de um plano de manejo.
A Serra das Andorinhas, traz também preocupação relacionada
a preservação ao sitio arqueológico, a serra é localizada no município de São
Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará, alguns sítios constituem-se em abrigos
com pinturas rupestres. E os mesmos tem sido prejudicado pela ação de
visitantes desinformados sobre a importância do patrimônio arqueológico, como a
retirada de materiais do lugar por colecionadores, as divulgações das agências
de turismo gerando grande fluxo de visitantes e outro fator é a ação da
natureza, como a chuva e as cheias dos rios.
A área da Serra das Andorinhas está localizada em duas
unidades de conservação: o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas,
criado em 1996 e a Área de Proteção Ambiental São Geraldo do Araguaia, criada
em 1996, ambos ainda sem plano de manejo. Fator importante que precisa ser
considerado, para que danos irreversíveis possam ser evitados mobilizando a
gestão local e os próprios moradores para a contribuição da preservação do
patrimônio arqueológico e não apenas estes, mas também conscientizar o próprio
visitante, de maneira, evitar danos ao espaço.
Para tanto, a Ilha do Marajó é outro lugar que apresenta
sítios arqueológicos, porém sofreu vários fatores como saqueamentos nos sítios
durante o século XX, retiradas de peças de cerâmicas sem nenhuma preocupação em
registrar ou informar ao órgão competente, assim como o tráfico de peças arqueológicas
em outras áreas do rio Anajás.
Apesar desse fator preocupante, a ilha se tornou atração
turística muito divulgada pelas agências de turismo, no qual, alguns hotéis
fazenda apresentam como um dos atrativos a visitação em sítios arqueológicos, onde
o turista pode levar de lembrança alguns fragmentos de cerâmica pré-histórica.
No entanto, da mesma forma que em Monte Alegre e na Serra das Andorinhas, no
Marajó não há qualquer tipo de controle, seja por parte dos operadores seja por
parte do poder público, sobre a quantidade e o tipo de visitação desses sítios.
PROBLEMAS
DECORRENTES DA VISITAÇÃO DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
As situações mais preocupantes ligadas à visitação dos
sítios arqueológicos e à relação entre a atividade turística e a arqueologia,
geralmente estão ligadas à ausência da pesquisa e da intervenção e
planejamento. São elas:
-
Ausência de pesquisa arqueológica nos sítios, que implica na falta de
informações sobre o local visitado e seus antigos habitantes;
-
Ausência de plano de manejo da área onde os sítios estão inseridos;
-
Ausência de estruturas que facilitem o percurso no sítio proporcionando
segurança ao visitante e a proteção aos sítios;
-
Ausência de supervisão para visitação das áreas;
- As
informações sobre os sítios - sua origem, as características do material
arqueológico, quem eram e quando viveram os índios que habitaram aquele local -
são repassadas ao visitante a partir da interpretação dos próprios guias, sem
amparo científico;
-
Retirada, pelos visitantes, de objetos do sitio arqueológico para compor
acervos particulares, como souvenir ou registro da viagem que realizou;
- Atos
de vandalismo, como pichações e inscrições realizadas pelos visitantes para
registrar sua passagem pelo local.
- Exagerado
fluxo de visitantes ameaçando sítios com alta fragilidade.
SUGESTÕES
DE AÇÕES PARA A EXPLORAÇÃO DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS PARA O TURISMO
1) A definição, a partir de
pesquisas, de áreas que podem ser reveladas ao público e áreas que não podem
receber visitação é um segundo momento. Um pré-zoneamento do sítio em função
das variáveis ambientais que são encontradas na área, das ameaças que podem vir
do próprio ambiente e de ações antrópicas de outra ordem e da própria
possibilidade de visitação. Sinalização do sítio e do seu entorno, de acordo
com as potencialidades e fragilidades da área do sítio;
2) A
musealização e turistificação de zonas próximas ao sítio ou no próprio sítio
são alternativas para diminuir o fluxo no próprio sitio ou em suas áreas mais
frágeis. Isso pode ocorrer na preparação de áreas completamente artificiais,
que ajudem na educação e diminuam a pressão sobre o sítio.
3)
Criação de documentos informativos sobre os resultados das pesquisas relativas
ao (s) sítio(s) e a importância daquele local para a pré-história da região.
Quanto mais informações o visitante tiver sobre o local maior as possibilidades
dele compreender a importância de preservá-lo.
4)
Capacitação de guias especializados para que sejam repassadas de forma correta
as informações sobre o local visitado.
5) O
envolvimento das populações próximas aos sítios arqueológicos é imprescindível
em, pelo menos, dois momentos: durante a pesquisa arqueológica e,
posteriormente, quando do uso turístico dos sítios. No primeiro momento, é
importante levar ao conhecimento dessas comunidades o trabalho que está sendo
realizado e sua importância. Esse processo deve ser feito através de um
conjunto de ações de educação patrimonial que permitam sensibilizar as
comunidades sobre a importância de conhecer o passado e a necessidade preservar
o patrimônio arqueológico; se os sítios estudados forem expostos à visitação
turística, as comunidades também deverão participar fazendo parte nas decisões
e colaborando com elas. Dessa forma, as comunidades desenvolvem o sentimento de
pertencimento para com o patrimônio que as rodeia, transformando-se nos seus
principais guardiãs. A relação entre pesquisa arqueológica, turismo/visitação e
população local é o tripé onde deve ser firmar as metodologias de planejamento
de áreas com sítios arqueológicos.
O planejamento do turismo em sítios arqueológicos pode ser
empregado e bem desenvolvido como atividade de visitação, porém havendo um
corpo gestor e profissionais capazes de articular mecanismos que evitem a depredação
do lugar, e de fato as pessoas tenham o interesse em conhecer os vestígios
deixados pela civilização passada, de modo, terem uma experiência única, no
caso, dos três lugares citados acima não apresentam um turismo planejado e uma
ação pública forte para com a proteção dos sítios arqueológicos. É importante
perceber o quanto essa atividade pode trazer benefícios, não só na formação das
pessoas que visitam um sítio, quando se explica a origem do lugar e de seus
habitantes, mas também no aspecto pedagógico, na passagem de informações e
preceitos sobre o respeito ao patrimônio e o respeito à diferença.
PEREIRA, Edithe; FIGUEIREDO,
Silvio, Lima. Arqueologia e turismo na
Amazônia: Problemas e perspectivas. Cadernos do LEPAARQ – Textos de
Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. V. II, nº 3 Pelotas, RS: Ed: UFPEL, 2005.